O futebol já vos devia isto
Caro leitor, o futebol, por vezes, é injusto, como o leitor, por cruéis experiências, certamente já testemunhou. Apedeuta, é insensível a esforços e ignora entre-linhas quiméricas. Não foi o caso desta noite, histórica por imposição. Qual Robin Hood, o futebol roubou ao invencível (longe de ser vilão, claro) e deu ao pobre, que nunca havia saboreado a glória europeia e não levantava um troféu desde 1963.
As razões para a Atalanta ter contas a ajustar com o destino não se prendem exclusivamente pela ausência de troféus. É preciso compreender o passado e, sobretudo, a influência de Gasperini no clube – para isso, o zerozero já dedicou um artigo, que pode ler aqui. Um homem e uma ideia insistentemente a bater à porta da felicidade – três finais perdidas nos últimos seis anos -, sem sucesso até esta noite.
Foi dessa forma, tão confiante no que defendia ao ponto de não temer eventuais infortúnios, que a Atalanta entrou em campo. Confortável e destemida, a Atalanta foi superior durante todo o primeiro tempo.
Qual malhete, os pés de Lookman colocaram ordem na casa. Com o esquerdo, o avançado nigeriano condenou uma desatenção de Palacios e traduziu a vivacidade italiana em números no marcador. Minutos mais tarde, o direito esculpiu uma obra de arte; da faixa para dentro, túnel a um adversário e remate em jeito, indefensável, para o fundo das redes.
Nem meia hora e o homem do jogo – salvo alguma trama alemã, típica nos minutos finais – já estava encontrada. A distinção sorriu a alguém que representa, quase na perfeição, o projeto Atalanta; ofuscado e infeliz, passou despercebido noutras paragens – quiçá, inclusive, com desafios mais aliciantes -, mas em Bérgamo, à semelhança de Gasperini e de outros tantos, encontrou o sítio e as condições certas para brilhar. Um bonito entrosar do destino com o mérito.