OPINIÃO | O melhor treinador do Sporting desde os violinos
Os campeões por regra são justos, mas o da época que finda em Portugal não só é justo como indiscutível. O Sporting foi a equipa com o processo de jogo mais competente – defensivo e ofensivo – e isso é sempre o mais determinante para o sucesso. Além da qualidade do treino, visível nos comportamentos de jogo, foi também admirável na valorização das individualidades, tanto na perceção dos reforços certos para posições críticas, com as inatacáveis escolhas de Gyokeres e Hjulmand, como na recuperação de Paulinho, na explosão de Trincão, no crescimento de Bragança, na perceção do que podia vale Geny Catamo, no relançamento da carreira de Quaresma.
Não foi coisa pouca. E há um nome comum a tudo isto: Rúben Amorim, seguramente o melhor treinador da história do Sporting, pelo menos desde os violinos.
Ontem, no dia da festa leonina, morreu um dos maiores sábios do jogo, profissional de futebol até ao último dia de uma longa vida. Partiu aos 85 anos o argentino César Luís Menotti, treinador campeão do mundo em 1978. Mas muito mais do que alguém que ganhou títulos, Menotti logrou o respeito dos que amam o jogo por pensar melhor, ousar diferente, inspirar sempre. Era um romântico, sim, mas é dos românticos que nascem as histórias mais bonitas que este jogo deixará para contar, hoje e no futuro.
Lembro Menotti porque merece, mas também por ter dito um dia que «90% dos jogadores atuais não sabe jogar futebol, entendendo-se como tal um jogo coletivo». Fazer crescer jogadores não é para todos, mas é sempre no coletivo que eles se afirmam, mesmo os maiores talentos. Maradona não fez em Barcelona o que conseguiu em Nápoles, Messi não replicou em Paris o que se lhe viu na Catalunha. Nem esses, os dois maiores génios que o mundo viu filmados a cores, renderam sempre o mesmo.
O futebol é contexto, sempre. Quando a maioria dos jogadores parece melhor do que antes é porque o contexto tático (e de clube) os favoreceu. Quando a maioria parece pior, é porque o contexto falhou, na equipa e no clube. Benfica e FC Porto são hoje exemplos da última conclusão, o Sporting da anterior, naturalmente. Os campeonatos ganhos também se explicam assim.
Acredito que os treinadores têm duas competências fundamentais: as genéricas, exigíveis a líderes em qualquer atividade – e que são relativas a empatia, gestão de grupo, relacionamento ou capacidade de comunicar -, e as específicas, que no futebol são essencialmente treino e jogo, criar um e gerir o outro, ligados como gémeos siameses.